ASN BA Atualização
Compartilhe

Prosa com Elas discute a importância da economia do cuidado

Desigualdade de gênero, invisibilidade do trabalho exercido, possibilidades para empreender foram alguns dos assuntos tratados no bate-papo
Por Rosana Silva
ASN BA Atualização
Compartilhe

A economia do cuidado foi o tema discutido em mais uma edição do “Prosa com elas”, uma realização do Sebrae Bahia e do Conselho Regional de Economia da Bahia, na sexta-feira (22), no auditório do Sebrae, no Costa Azul. O evento reuniu representantes de instituições públicas a fim de discutir o tema que impacta a vida pessoal e profissional das mulheres.

Pode-se definir a economia do cuidado como aquelas atividades relativamente femininas, de cuidados com a casa e com as pessoas. Segundo a gerente adjunta de Gestão Estratégica do Sebrae Bahia, Isabel Ribeiro, tratar do assunto no “Prosa com Elas” mostra a relevância que a discussão tem ganhado na sociedade recentemente.

“Essa economia do cuidado tem ganhado dimensão porque é um trabalho não remunerado, realizado por mulheres que, na maior parte das vezes, sai do mercado de trabalho ou não consegue se inserir novamente, por exemplo. Essas mulheres precisam das redes de apoio tanto no âmbito público como privado. Por isso, convidamos também representantes do município e o governo do estado para tratar do assunto”, explicou.

O superintendente do Sebrae Bahia, Jorge Khoury, deu as boas-vindas e falou sobre a construção da igualdade entre homens e mulheres. “Nesta casa, somos todos iguais, e vamos trabalhar para ampliar esta prática, mas com cada um de nós no ambiente do trabalho, da convivência familiar, fazendo valer esse entendimento, é uma contribuição que se pode dar”, afirmou.

Já o diretor de Administração Financeira da Instituição, Vitor Lopes, também ressaltou a relevância do assunto. “Grande parte deste setor da economia do cuidado é composto por mulheres profissionais. Esse setor está em crescimento, as pessoas estão envelhecendo, há o aumento da expectativa de vida, por exemplo. Assim, é importante conhecer essa realidade e apoiar as empreendedoras deste segmento”, reconheceu.

A mediação do bate papo foi feita por Isabel Ribeiro, que convidou ao auditório a coordenadora de disseminação de informação do IBGE, Mariana Viveiros, a professora da Universidade Estadual de Feira de Santana, doutora e mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia, Verônica Ferreira Silva dos Santos, a advogada e secretária Municipal de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude, Fernanda Silva Lordelo, a psicóloga Clínica Comportamental, Josy Nascimento, e a superintendente de Promoção e Inclusão Socioprodutiva do governo da Bahia, Ioná Queiroz.

Mariana Viveiros explicou que o tema da economia do cuidado ainda é invisível. A partir do século XXI, institutos de pesquisa passaram a investigar o tema. “As investigações identificaram, inicialmente, o uso do tempo e o valor dessas atividades”, explicou. Hoje, as pesquisas do IBGE chegaram a alguns números. De acordo com ela, 90% das mulheres realizam afazeres domésticos ou cuidam de pessoas. Não é o cuidado profissional, remunerado, mas o cuidado do parente, da tia, da mãe, do filho. Na Bahia, os homens trabalham 75% e no Brasil 80%.

“Parece uma diferença pequena, apesar de não ser. Nisso está a grande desigualdade de gênero. Na Bahia, numa semana, em média, as mulheres gastam 23 horas nessas atividades e os homens gastam 11 horas. A Bahia tem a maior desigualdade dentre os estados nesse indicador”, ressaltou.

Outro impacto ressaltado por Viveiros é o desemprego das mulheres que exercem atividades de cuidado. “Ter uma criança pequena em casa diminui em cerca de 20% a chance de a mulher trabalhar. Dentre as mulheres com criança pequena, 45,7% não trabalham. Já dentre as mulheres que não tem criança em casa, 57% estão trabalhando”, pontuou.

Fernanda Lordelo apontou que os dados trazidos por Viveiros refletem a realidade encontrada na cidade de Salvador. “Dentro do Cadúnico, 80% são mulheres que chefiam famílias de forma individual. Elas não têm como ir para o mercado de trabalho, porque não tem com quem deixar seu filho, elas não têm rede de apoio. No município, tenho responsabilidade e busco fazer, dentro do meu caminho, o que consigo, mas precisamos pensar nisto de outros ângulos, inclusive a nível federal”, indicou.

Lordelo citou algumas ações que a secretaria tem realizado para os problemas citados. “Temos várias políticas públicas para mulher contra a violência, temos centros de referências, parcerias, em que buscamos inserir esta mulher no mercado de trabalho. Espero que tenhamos aqui várias mulheres dispostas a mentorear mulheres de comunidades”.

De maneira semelhante, a superintendente Ioná Queiroz também reforçou a necessidade da criação de uma política do cuidado. “É uma política em construção, que é intersetorial, porque não pode ser construída por apenas uma secretaria, um ministério do estado, ela precisa passar por vários outros. Dentro do estado da Bahia, estamos formando esse grupo de trabalho. Ano passado, junto com a secretaria de saúde, desenvolvemos o programa ‘Cuidar de quem cuida’, com projetos de escuta das mulheres”.

Ioná ressaltou o trabalho do cuidado da saúde mental das mulheres que sofrem violência doméstica, pois a falta de autonomia e a vulnerabilidade fazem com que as mulheres permaneçam no ciclo de violência.

O cuidado com a saúde mental das mulheres também foi destaque na fala da psicóloga Clínica Comportamental, Josy Nascimento. “Não desistam de vocês. Não é possível cuidar do outro na economia do cuidado sem cuidar de si. Não é sua culpa porque fomos ensinadas a servir, a cuidar. É preciso desmistificar que acompanhamento psicológico não é para maluco, mas para pessoas que reconhecem suas limitações e querem mudar suas histórias”, explicou.

Ao falar sobre o empreendedorismo voltado para a economia do cuidado, Verônica Santos ressaltou que algumas áreas abarcam atividades voltadas para a economia do cuidado. “Algumas das áreas que estão crescendo em termos de cuidado são saúde e bem-estar, pois as pessoas estão vivendo mais, tendo uma melhor qualidade de vida”.

Além disso, a professora deu dicas de autocuidado emocional e financeiro para quem empreende com essas atividades. “Enquanto dica de organização do tempo para as pessoas que empreendem sozinhas, é importante alocar o tempo e tentar dividir as atividades em cada área que precisa ser desenvolvida na empresa. Em relação às finanças, é necessário não atrapalhar as finanças pessoais com as finanças da empresa”, explicou.