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Livro “Piaçava pelo olhar artesão” é lançado na e-Agro

Lançamento reuniu os artesãos e mestres que receberam capacitação e apresentam seus produtos no livro e na feira
Por Rosana Silva para ML Comunicação
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“Piaçava pelo olhar artesão” é o título do livro lançado na noite desta sexta-feira (8), na e-Agro 2024. A publicação apresenta a história da piaçava, o manejo extrativista para aquisição da renda, porque dela se pode fazer vassoura, chapéus, cestos, peças decorativas etc. As fotografias mostram os trabalhos realizados pelos empreendedores de cidades da Bahia, com a palha e a fibra da piaçava, além dos tipos de trançados, desenhos, textura, cores e suas variações.

Estiveram presentes ao lançamento do livro, o diretor técnico do Sebrae Bahia, Franklin Santos, e de Administração e Finanças, Vítor Lopes. A partir da parceria entre o Sebrae Bahia e o Faeb/Senar, foi possível proporcionar capacitações aos grupos envolvidos. Houve também o apoio do Artesanato Referência da Bahia.

No livro, com o texto intitulado “Empreendedorismo de Fibra”, o superintendente do Sebrae Bahia, Jorge Khoury, explicou que a instituição está preparada para promover a qualificação. “Por meio das capacitações ofertadas, os artesãos podem desenvolver suas habilidades, aprimorar os conhecimentos e, ao mesmo tempo, preservar os produtos naturais”.

Ainda no livro, no texto “A piaçava: Resistência e Sustentabilidade na Bahia”, o presidente do Sistema Faeb/Senar e do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae Bahia, Humberto Miranda, explicou a importância de apoiar o projeto. “Investir nesse projeto é reafirmar o nosso compromisso em contribuir para o fortalecimento da identidade cultural, especialmente no que se refere às atividades artesãs na área rural, valorizando os núcleos produtivos do campo, no contato direto com a matéria prima local e o fazer manual”.

Segundo a coordenadora de Economia Criativa do Sebrae Bahia, Tatiana Martins, desde 2017, é documentada, em publicações, todo o trabalho feito no artesanato, a fim de manter a memória. Neste ano, o recorte da nova publicação abordou a piaçava.

“Temos diversas fibras na Bahia, mas, neste ano, começamos a falar de uma maneira mais destrinchada e detalhada sobre a piaçava, que é originária da Bahia. Os artesãos do Baixo Sul trabalham com a fibra e os artesãos da Costa dos Coqueiros com a palha. A origem desse trabalho, com a fibra, vem dos quilombolas, que já faziam vassouras. Hoje eles evoluíram bastante, depois do trabalho do Sebrae. Eles cresceram muito, já participam de rodada de negócios, que tem um faturamento, por unidade produtiva e por associação, de cinquenta e setenta mil reais em dois dias”, explicou.

A artesã Daniela Conceição, que estava na feira acompanhada da mãe e artesã, Elisabete da Hora Lacerda, contou que conseguiu qualificar o trabalho realizado após o acompanhamento da instituição.

“Depois que o Sebrae entrou, mudou bastante a vida da gente. A renda de todo mundo aumentou, tivemos mais capacitação, e o desenvolvimento e a qualidade dos produtos melhoraram bastante, a exemplo do acabamento das peças. Não fazíamos o tingimento como hoje e cada peça tem um design diferente”, ressaltou. As cestas expostas foram feitas pelo grupo de mulheres da Associação de Produtores do Baixo Sul da Bahia. “Cerca de 15 artesãs trabalham com as cestarias. Nessas peças, temos um pouco de cada mulher na nossa comunidade, contou.

As artesãs Evanira Gonçalves dos Santos e Edelzuita Conceição Santos levaram para a feira produtos feitos da palha da piaçava. Na exposição, havia bolsas com diferentes tamanhos, cores e tranças, a exemplo da trança oriunda dos povos indígenas, como explica Evanira.

“Tem tranças de lacinho, dezessete pares, o trançado Tupinambá, o original. Os indígenas faziam cestos e esteiras. Assim, a minha avó aprendeu com a mãe dela e foi passando por gerações. Com cinco anos, minha mãe riscava a palha e eu fazia a trança. Hoje já estou ensinando para as minhas netinhas. Tenho uma neta de 9 anos que já sabe fazer as tranças”, afirmou.

As peças são produzidas pelo grupo de mulheres que fazem parte da Associação de Produtores Artesãos de Vila Sauípe, Estiva, Canoas e Águas Compridas. Para a artesã, as capacitações também contribuíram para aperfeiçoar o trabalho realizado. “Nós já fazíamos a trança e tingimento com cores naturais da capianga, do urucum, da lama do mangue. O Sebrae continuou dando apoio, levando designer e cursos de capacitação e controle de qualidade”, contou Evanira.

O Mestre José Roque, morador da cidade de Ituberá, também levou suas peças para a exposição, como as mandalas, os vasos com trançado da piaçava. Nascido no quilombo de Boitaraca, próximo de Nilo Peçanha, ainda criança, José Roque tentava imitar o pai, que fazia cestos com cipó, mas, por não conseguir acompanhá-lo, decidiu usar a piaçava para fazer as peças, porque era mais maleável.

“No quilombo, ainda se vive da fibra da piaçava, mas, quando fui morar em Ituberá, para melhorar de vida, conheci a técnica do trançado. Fui convidado por um projeto para coordenar um trabalho junto às comunidades quilombolas daquela região. Tive a oportunidade e o privilégio de voltar para meu quilombo e passar os conhecimentos que aprendi, as técnicas para meus parentes”. O trançado costurado foi uma técnica nova ensinada a José por uma senhora chamada Solange, de Ituberá. Essa técnica construiu muitas peças, como a vaso chamado “Caminho do quilombo”.

Conforme explica José Roque, as oficinas oferecidas pelo Sebrae trouxeram mudanças para o produto. “Nos ajudaram bastante através do design, que são os formatos dos desenhos, a introdução do uso da pátina, que é uma leve mão de tinta, e isso valorizou, agregou e trouxe inovação ao nosso produto”, explicou.
Segundo o mestre, as peças que tem feito com a fibra da piaçava traz sua história de vida. “Faço esse trabalho com muito amor, essa fibra tem a ver com a minha criação, o meu passado. Sou extrativista, sou filho de extrativista e essa é um pouco da minha com a vivência”, ressaltou.

e-Agro segue até sábado (9)

A e-Agro é promovida pelo Sistema Faeb/Senar e pelo Sebrae e conta com patrocínio da Neoenergia Coelba, Syngenta, Aiba, Abapa, Banco do Nordeste, Guebor, Sistema Fieb/Senai/Cimatec e Sistema Fecomércio-BA e o apoio do Banco do Brasil. O evento, que segue até sábado (9), é gratuito e a programação completa pode ser conferida em https://www.eagrodigital.com.br/. Empreendedores com CNPJ, DAP, NIRF, CAF, registro de pesca e carteira de artesão têm acesso também às palestras e capacitações. Já o público geral pode conferir as áreas de exposição e as atrações culturais durante todos os dias do evento.

A e-Agro conta ainda com uma ampla programação cultural, praça de alimentação, espaço de artesanato e arena tecnológica. A primeira edição do evento foi realizada em Vitória da Conquista, em 2019; uma edição digital, em 2020; e em Teixeira de Freitas, em 2021. Essa é a terceira edição consecutiva realizada em Salvador. Nas quatro edições presenciais anteriores, o evento já recebeu mais de 40 mil pessoas, gerou mais de 100 milhões de reais em negócios e teve participação de 200 expositores, além de ter gerado mais de 700 mil reais em mídia espontânea.

SERVIÇO

O quê: e-Agro 2024
Quando: de 7 e 8 de novembro, das 13h às 22h; e 9 de novembro das 12h às 21h
Onde: no Centro de Convenções de Salvador, Boca do Rio, Salvador (BA)
Inscrição gratuita: https://www.eagrodigital.com.br