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Pesquisa do Sebrae aponta que 47% das mães empreendedoras são chefes de domicílio

Estudo inédito revela ainda que 45,5% são MEI, 40,3% dedicam 45 horas por semana à gestão do negócio e 76% são pretas ou pardas
Por Marcia Gomes
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As mulheres estão à frente de 33% dos negócios na Bahia, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Sebrae Bahia mergulhou a fundo no tema e lança neste mês de maio – na plataforma DataSebrae/BA – a pesquisa inédita “Maternidade e negócios: a força das mães empreendedoras baianas”. O objetivo do levantamento é identificar o perfil, as necessidades, desejos e propósitos das mães empreendedoras baianas.

O trabalho aponta que 76% das mães empreendedoras baianas são negras (pretas e pardas); 47% são chefes de domicílio; e 48% têm rendimento mensal de até R$ 2.824,00, ou seja, cerca de até dois salários mínimos.
A maternidade transforma a vida das mulheres, despertando sentimentos nunca antes experimentados, mas também traz à tona responsabilidades irrenunciáveis. Conciliar a missão de ser mãe com a gestão dos negócios não é tarefa fácil, sobretudo para aquelas que não possuem uma rede de apoio. A sondagem do Sebrae Bahia aponta que 40,3% das entrevistadas dedicam 45 horas por semana à atividade empresarial.

O empreendedorismo materno é exemplo de empoderamento feminino e atesta que é possível conciliar a maternidade com a realização profissional e a busca pela independência financeira. O relatório mostra que 45,5% são microempreendedoras individuais (MEIs), 20,2% são donas de microempresa (ME), 10,4% desenvolvem algum tipo de atividade informal e 11,9% planejam empreender. Comércio (45,4%) e serviços (42,2%) são, de longe, as atividades preponderantes e, no universo de respondentes da pesquisa, 57,9% têm idade entre 35 e 50 anos.

Foto: Darío G. Neto/Divulgação

Na avaliação da gestora do Programa Sebrae Delas na Bahia, Rosângela Gonçalves, “é importante publicizar todo estudo que traz à tona os detalhes do feminino. Esse trabalho mostra os desafios da mulher empreendedora e apresenta as barreiras adicionais que uma mulher enfrenta na sua jornada empreendedora. E, para as que são mães, essas barreiras são ainda maiores, porque não é fácil administrar o negócio, realizar os afazeres domésticos e ainda cuidar dos filhos. É uma tripla jornada”. Segundo ela, os números apresentados pela pesquisa fornecem subsídios para que o Sebrae elabore novos projetos que venham a apoiar e minimizar os obstáculos que se põem diante dessas mulheres.

“As empreendedoras que entram em contato com os dados desse relatório começam a entender em que universo estão inseridas e as que pretendem empreender vislumbram o que vão encarar e isso faz com que elas possam se planejar melhor, amplia as alternativas e as conecta a outras mulheres. Ou seja, esse estudo traz para elas conhecimento”, avalia a Rosângela Gonçalves, que indica a todas as mulheres que empreendem e às que desejam empreender que visitem o KIT.Mulher.com do Sebrae, que contém ferramentas gratuitas de gestão de tempo e produtividade.

Mães

Cynthia Paixão, 38 anos, realiza a gestão de 110 marcas na Afrocentrado Colabs, loja colaborativa que reúne afroempreendedores, em Salvador. Mas sua jornada não teve um início fácil. Começou a empreender aos 12 anos, vendendo boletos premiados do Poupa Ganha para ajudar a mãe, que, sozinha, criava ela e o irmão. “A partir dos 12 anos, eu comecei a entender o que era dinheiro e o que era empreender”, recorda. Aos 21, ficou grávida de gêmeos, foi colocada para fora de casa, tendo ido viver com os dois filhos num quitinete alugado. Nessa época, trabalhava como celetista e sentia falta de estar mais presente ao lado dos filhos. “Quando eu saía para trabalhar eles estavam dormindo e quando voltava já estavam dormindo também. Foi através da minha dor de dar atenção à minha família que o empreendedorismo me salvou”, avalia.

Ela ficou dos 21 aos 22 como mãe solteira, mas atualmente sustenta a família através do empreendedorismo, “que é a chave que me trouxe o fortalecimento enquanto mulher preta e empreendedora”, afirma. Antenada na sua ancestralidade, em 2014, Cynthia foi eleita Deusa do Ébano no Ilê Aiyê. “Hoje eu tenho uma rede de apoio, tenho meu companheiro que me ajudou a criar meus filhos gêmeos e com quem eu tive a minha caçula, que está com seis anos. Tenho uma linda família. Até eu hoje não sei como consigo cuidar dos meus filhos e ser empresária ao mesmo tempo, porque é uma sobrecarga tremenda, mas juntando amor e razão a gente consegue administrar da melhor forma”, comenta.

Gislaine Silva há 11 anos é dona da Mel e Mar, empresa que comercializa fantasias e acessórios infantis. Ela é mãe solo das gêmeas Melissa e Marcele, cujos nomes serviram de inspiração para o nome do negócio. A empresa surgiu quando ela estava grávida das meninas. “Comecei a produzir laços para combinar com as roupas das minhas filhas. Amigos e familiares começaram a encomendar e então eu passei a vender. Fiquei sabendo que seria demitida depois que terminasse a licença-maternidade e eu tinha que fazer algo para prover meu sustento e identifiquei essa oportunidade como um negócio viável. A Mel e Mar existe hoje por causa das minhas filhas”, revela.

“Minha rede de apoio é minha mãe e em algumas ocasiões também conto com o pai das meninas”, diz. Ela revela que há momentos em que prioriza a empresa e em outros prioriza as filhas. “Quando nasce uma mãe, nasce uma culpa. E essa culpa é eterna, nunca passa, só vai aumentando, porque o grande desafio para mães que empreendem é fazer essa conciliação entre a maternidade e a vida de empresária, mas a gente vai vivendo a cada dia e driblando as dificuldades”, aponta.