Na segunda-feira (1º), no Centro de Formação Emílio Ferreiro, no Costa Azul, foi realizada uma audiência pública promovida pela Secretaria Municipal de Educação (SMED), da Prefeitura de Salvador, com a presença de representantes do Sebrae Bahia, além de autoridades, professores, coordenadores do campo educacional e demais secretarias do município. O encontro tratou da implementação da Lei Municipal nº 9.785/2024, que inclui o conteúdo de empreendedorismo como tema transversal no programa curricular das escolas das redes públicas e privadas do município de Salvador.

Para contribuir com o projeto para implementação da lei, o Sebrae Bahia, por meio da Unidade de Educação Empreendedora, foi convidado pela SMED e o vereador Júlio Santos, proponente do projeto. Foram realizados três encontros de formação em 10 escolas da rede municipal de Salvador.
O superintendente do Sebrae Bahia, Jorge Khoury, ressaltou que a função da instituição é apoiar para que a educação seja instrumento para a transformação de realidades. “No Sebrae, a educação empreendedora é trabalhada em mais de 200 municípios, e espero que em 2026 possamos acelerar e alcançar a maioria dos municípios da Bahia. A criança que recebe o aprendizado sobre empreender vai fazer a diferença, porque o conhecimento permanece. Fico feliz de estar aqui para pensar no desenvolvimento da educação em Salvador, porque a capital é sempre o modelo, é sempre uma referência”.

A gerente da Unidade de Educação Empreendedora do Sebrae, Janaina Neves, comentou o processo de articulação com a secretaria de Educação, a equipe do vereador Julio Santos, a fim de contribuir para pensar em formas de implementação da lei. “Com todos os desafios de implementação de programa nas escolas, já entendemos que a escola tem autonomia e acreditamos que não levamos mais trabalho para o professor. Ao contrário, levamos um caminho para ajudá-lo naquilo que ele tem como missão, fundamentados na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que fala das 10 competências gerais. Quando falamos em educação empreendedora, abordamos as competências que estão diretamente alinhadas à BNCC”.
Ela ressaltou a importância de implantar projetos que possam estimular o protagonismo juvenil. “Reunir recursos necessários para tornar aquilo uma ação concreta e gerar valor seja social ou econômico. Esse é o conceito de empreendedorismo que trazemos na educação empreendedora. Ao falarmos em educação e em educação empreendedora nas escolas, buscamos estimular nossos alunos para que possam ser protagonistas nas suas escolas e, com isso, transformar as escolas em laboratórios vivos de ideias, de criação. Trabalhamos nessa linha, não falamos em abertura de negócios, mas em abertura de horizontes, em novas aberturas de perspectivas para esses estudantes, a partir do momento que incentivamos todas essas competências”, explicou.
Criador da lei, que foi sancionada em 11 de março de 2024, o vereador Júlio Santos explicou o objetivo que se pretende alcançar com esta iniciativa. “Essa lei nasceu com o propósito de estimular o protagonismo juvenil, desenvolver competências socioemocionais e preparar as crianças e adolescentes para empreender no mundo do trabalho com autonomia e criatividade e propósito. Mas, empreender vai muito além do que abrir um negócio. Significa empreender para a vida. Essa é a proposta deste projeto para que possamos pegar na base a criança, o adolescente, o jovem para que eles saiam com uma perspectiva de futuro”.

O secretário Municipal da Educação de Salvador, Thiago Dantas, ressaltou a importância de levar adiante a proposta do projeto. “O foco agora é compreender como essa legislação impacta na prática e na realidade. Já temos a experiência de uma escola que abraçou este desafio e levou para sua comunidade a possibilidade de discutir o empreendedorismo dentro de uma perspectiva associada ao contexto educacional. Com isso, precisamos pensar em um planejamento que garanta alinhamento, foco e priorize esse esforço de combinar as diversas correntes curriculares, ditas tradicionais, com elementos novos trazidos como desafios para este tempo, dentre eles o empreendedorismo”, disse.
A diretora da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Salvador, Luciana Buck, falou sobre as contribuições da pasta que podem ser feitas ao projeto. “Salvador tem três índices que precisam melhorar: renda per capita, que é a geração de riqueza por habitante; diminuir a taxa de desemprego; e melhorar a qualidade da educação. Precisamos ter cultura empreendedora, porque as empresas querem produtividade, que é quando cada um de nós consegue gerar riqueza com o que temos para vender, que é a força do nosso trabalho. Mas, as empresas buscam além da cultura empreendedora. Elas querem pessoas com habilidades socioemocionais, que tem muita relação com as habilidades empreendedoras”.

Ela ressaltou que essas habilidades têm relação com forma e resultado, gestão de recursos limitados, saber priorizar, liderança, comunicação, trabalho em equipe. “Muitas delas são as habilidades socioemocionais que as empresas procuram nos seus funcionários. Assim, trabalhar a cultura empreendedora no ensino fundamental é dar independência aos estudantes de poder escolher o seu futuro. Para nós professores, o maior desafio é como trabalhar e desenvolver essas habilidades. Se fizermos isso em nossos alunos, Salvador vai voar”, concluou.
A professora da escola Jardim Santo Inácio, em Salvador, Ilza Carla Santos, falou sobre a experiência com a realização do projeto de educação empreendedora chamado “Vozes do bairro: abrindo caminhos e inspirando trajetórias”, liderado pelos estudantes. “Percebi que os estudantes conheciam pouco ou quase nada do território em que estavam inseridos. Perguntei como a escola poderia aproximar os estudantes dos empreendedores, das lideranças e das vozes que fazem a comunidade? O projeto teve como ponto de partida os cadernos do Sebrae ‘Comunique-se com empatia’, destinado aos estudantes do 6º ano, em conjunto com a Lei 10.639/2023, que institui o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas. Foi a união perfeita, de um lado a educação empreendedora do outro a força do quilombo da Mata Escura”.

Assim, o objetivo do projeto era tornar os estudantes agentes de mudança do próprio bairro por meio da investigação da própria história. “Tivemos apoio de toda a comunidade escolar e estamos construindo um doc cast e como subproduto um auto da história da comunidade, a partir das entrevistas que os estudantes fizeram. Eles foram os protagonistas do projeto, porque eles mapearam as personalidades empreendedoras da nossa comunidade, fizeram e gravaram as entrevistas, resultando em um documentário que será exibido em nossa escola. Com esse documentário, queremos que as crianças reconheçam que existe um empreendedorismo vivo em sua comunidade e está presente no DNA delas e que como agentes munidos de planejamento, ação, criatividade, elas podem colaborar para o combate às injustiças sociais que impactam suas vidas todos os dias”, pontuou.
A coordenadora pedagógica da SMED, Cristina da Mata, falou sobre o trabalho de formação dos professores voltados para a educação empreendedora. “Tivemos três encontros formativos riquíssimos. A semente foi plantada, do ponto de vista de preparar os professores e professoras para conseguir traduzir o que a lei traz e fazer com que os estudantes vejam que a criatividade não nasce do acaso. A escola pode incentivar a criatividade, isso foi o que o Sebrae nos ensinou a fazer. Temos 10 escolas com profissionais preparados para tocar a legislação e, para além disso, como fez a escola Jardim Santo Inácio, de fazer com que o empreendedorismo ultrapasse a concepção mercadológica”, pontuou.


