O auditório da Agência Sebrae Costa Azul, em Salvador, reuniu um time de personalidades negras, na noite de quarta-feira (12), na 6ª edição do ‘Vozes do Afroempreendedorismo – Potências Negras, Futuros Possíveis’, cujo propósito é promover a conexão, visibilidade e fortalecimento do protagonismo negro nos negócios, na cultura e na sociedade. Os convidados compartilharam suas trajetórias de vida, conquistas, estratégias de sucesso, histórias de superação e falas de estímulo, com uma plateia massiva e majoritariamente composta por empreendedores negros.
Realizado pelo Sebrae em parceria com a Associação de Jovens Empreendedores da Bahia (AJE Bahia), Empreenda Salvador e Prefeitura Municipal de Salvador – por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda –, o encontro teve início com o Coro Baobá (que integra o Coro Juvenil Neojiba), que entoou em perfeita afinação tanto releituras do cancioneiro brasileiro como a melodiosa “É doce morrer no mar” (Jorge Amado e Dorival Caymmi) quanto canções de jovens compositores.

A gestora do Programa Plural do Sebrae Bahia, Rosângela Gonçalves, destacou a satisfação de atuar em parceria com outros atores para a realização do evento. “Nós temos um compromisso com os pequenos negócios e principalmente com os negócios liderados por pessoas negras, porque, entendendo nosso contexto de cidade que tem a maior população negra fora da África, é nosso compromisso honrar isso. Contem com o Sebrae”, pontuou.

A palestra magna da noite foi proferida pelo fundador e CEO do Future in Black, Douglas Vidal. A terceira edição do encontro aconteceu em 15 de outubro, em São Paulo, e é considerado a maior conferência de negócios, influência e conexão estratégica, protagonizada por lideranças negras da América Latina, que conecta milhares de executivos de mais de 400 corporações nacionais e internacionais.
Psicólogo pela PUC-RJ e especialista em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Douglas Vidal tem uma trajetória marcada pela atuação estratégica em grandes instituições. Foi conselheiro do Banco do Brasil e da Astrazeneca, além de integrar a rede de líderes da Fundação Lemann. “Se eu fosse descrever hoje qual a minha maior habilidade, eu diria que é conseguir dar materialidade para coisas que muitas vezes nós achamos ser impossíveis”, afirmou. Segundo ele, “existe para cada empreendedor um futuro desenhado”.
Vidal chama a atenção para o fato de que suas escolhas o levaram a fazer diferente através dos negócios, criando CNPJs fortes. “Isso impacta hoje não só a minha vida, mas a da minha família, a do meu sócio, e também a das quase 90 pessoas que empregamos ao longo do ano, entregando resultados no Future in Black”, diz. Ele acredita que o maior diferencial do negócio, independentemente do estado em que se esteja, é quem vai empreender. “É a capacidade de pensar, agir e construir diferente e conseguir projetar para o mercado tudo aquilo que se está propondo de inovador”, aponta.

“Elas impactam”
A coordenadora do Programa Plural do Sebrae Bahia, em Salvador e Região Metropolitana, Taiane Almeida, foi a mediadora do primeiro painel da noite: ‘Elas Impactam’. “É muito bom ver esse auditório assim, enegrecido, brilhante, forte, como nós somos”, comentou. Compuseram a mesa Ana Cristina Santa Rosa (gestora de eventos – Afropunk), Flávia Silva (estrategista de carreira e especialista em marca pessoal, diversidade e liderança), Ana Junqueira (publicitária e CEO da Ello 1 Comunicação Visual) e Átila Lima (empresária, gestora, educadora financeira e CEO da Átila Lima Finanças).
As painelistas forneceram dicas valiosas para quem já empreende e para quem pretende se tornar empreendedor. Ana Cristina Santa Rosa aponta que não é possível falar de empreendedorismo sem pensar em pessoas. “Todas as estruturas estão de pé porque houve uma cabeça pensante e pessoas que fizeram com que isso existisse e é disso que precisamos falar, dessa construção sólida do ser humano”.
Flávia Silva comentou sobre o que há de mais específico na marca forte de um afroeempreendedor. Segundo ela, “não é possível se cogitar uma marca consolidada sem autoconhecimento. Precisamos parar de falar do afroempreendedorismo como um lugar de dor e necessidade. Devemos falar, sim, da potência do afroempreendedor, que deve sair da escassez e entrar na prosperidade e compreender que o seu talento pode e deve ser monetizado”.
Para Ana Junqueira, o sucesso do afroempreendedorismo está diretamente ligado ao trabalho genuíno, realizado em grupo e com cooperação. “Temos entregado excelentes resultados, fruto da coletividade. Há 17 anos, quando eu queria ser gerente de conta, ouvi que teria que alisar meu cabelo. Hoje estou aqui, na minha empresa, liderando uma equipe de 15 pessoas”.
Átila Lima frisou a importância de saber lidar com o dinheiro e lembrou que, sendo uma mulher negra, não é fácil mentorar homens, sobretudo os brancos. “Quando eu encontro empreendedores e empreendedoras negras, a identificação é imediata, porque eles vêm como eu consigo falar sobre aquela realidade em que eles vivem. Mas ainda se conta nos dedos quantas mulheres negras falam sobre finanças. Precisamos democratizar o acesso à educação financeira e essa é a nossa maior luta”, disse.

Pai do Afroeempreendedorismo
O engenheiro civil (UCSal), com extensão em Engenharia Elétrica e Computação (Unicamp) e CEO da Casaes Automação, Marcus Casaes, foi mediador da roda de conversa Vozes Talks, que reuniu o criador do termo ‘afroempreendedorismo’, o economista e mentor empresarial Mário Nelson Carvalho – baiano de São Gonçalo dos Campos -, e a empreendedora e articuladora de mudanças, com MBA em Gestão de Pessoas e Liderança, extensão em Sustentabilidade e Meio Ambiente pelo Instituto Federal Fluminense (IFF), co-fundadora do movimento Ciranda Preta (que enfatiza o protagonismo feminino negro), Danielle Pires.
Um dos principais fomentadores do afroempreendorismo no Brasil, Mário Nelson Carvalho, falou sobre enfrentamento estratégico para a manutenção, crescimento e solidificação de negócios e quais as melhores medidas a serem adotadas para garantir a geração de riqueza de afroempreendedores. “Não é possível vencer como empreendedor sem conhecimento. Dinheiro só não é bom se não for lícito. Se for lícito, faz um bem enorme. Não fazemos nada sem dinheiro, e falar de educação financeira é fundamental para qualquer empreendedor”. Sobre estratégia disse: “É seu sonho? Acredite e vá atrás dele. Não se conforme com os obstáculos e não se preocupe com o problema, porque ele vem”.
“Para além das minhas formações técnicas, eu sou fruto das minhas vivências, das pessoas que passaram pela minha vida e dos lugares que eu ocupei”, avalia Danielle Pires. Sobre a criação da Ciranda Preta – co-fundada pela CEO da N Black, Najara Black -, ela narrou que ideia surgiu de conversas entre as duas empreendedoras. “Nós identificamos que seria importante, assim como os afroamericanos fazem já há algum tempo, criar em Salvador comunidades negras para gerar negócios entre os integrantes. A Ciranda Preta tem o objetivo de criar uma rede para que a gente possa, de fato, fazer um networking estratégico com as mulheres pretas da nossa cidade. A gente se reúne para falar sobre dinheiro, prosperidade”, explica.

A noite foi finalizada com muita emoção, durante a entrega do Prêmio Mário Nelson Carvalho. Foram agraciadas com o reconhecimento a gerente adjunta da Unidade de Gestão e Estratégia (UGE) do Sebrae Bahia e presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Isabel Ribeiro; o músico Mateus Aleluia; Vítor Maciel; a empresária Najara Black e o coreógrafo e dançarino Silvado Tavares.
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