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Sebrae fortalece afroempreendedorismo no seminário Negócios com Raízes

Conversa preta reuniu empreendedores negros baianos, que ouviram relatos de ícones como Majur e Manoel Soares
Por Marcia Gomes para ML Comunicação
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A primeira edição do seminário “Negócios com Raízes – a força do empreendedorismo negro” reuniu, nesta terça-feira (15), cerca de 500 empreendedores negros no Fiesta Convention Center, no Itaigara, em Salvador. Realizado pelo Sebrae Bahia, o encontro, que teve como mestre de cerimônias o comunicador Lucas de Matos, foi uma grande celebração ao Black Money, com painéis, palestras, disputa de pitches e apresentação do portfólio de mentorias e cursos gratuitos do Sebrae, sendo marcado por muitos relatos pungentes, com foco na provocação de reflexões profundas e elevação da autoestima dos participantes. Dentre os convidados, figuraram a cantora e atriz Majur (@majur) e o jornalista e escritor Manoel Soares (@manoelsoares).

A abertura da tarde de conversa preta ficou a cargo do gerente do Sebrae em Salvador, Rogério Teixeira, e da gestora do Programa Plural em Salvador e Região Metropolitana e coordenadora do evento, Taiane Almeida. “Nós desejamos muito reunir vocês aqui, tanta gente boa, que empreende e que luta. O Sebrae quer abrir cada vez mais as portas para que vocês se sintam à vontade e a gente possa construir esse movimento de transformação do povo preto”, disse Rogério Teixeira.

“Nossa pauta hoje é o afroempreendedorismo, negócios liderados por pessoas pretas de Salvador e Região Metropolitana. Nós pedimos que vocês chamem mais pessoas para esse movimento, para que a gente consiga aproximar o Sebrae dos afroempreendedores, porque o Sebrae tem muita coisa boa que o nosso povo precisa acessar”, afirmou Taiane Almeida.

Em seguida, a gestora de afroempreendedorismo nacional do Sebrae, Fau Ferreira, falou sobre números relacionados ao empreendedorismo negro no Brasil. “Ser negro no Brasil não é só uma questão biológica, de fenótipo e genótipo. De pele clara ou escura. É uma questão política. O racismo impede que as pessoas negras acessem as estruturas de poder, mas o empreendedorismo é um caminho que facilita essa chegada a espaços de poder”, frisou. Segundo ela, no Brasil, o empreendedorismo é essencialmente negro. São 15,6 milhões de empreendedores negros, ou seja 52,4% do total de empreendedores no país.

Passado e futuro

No próximo quadro, a gestora estadual do Programa Plural do Sebrae, Rosângela Gonçalves, foi mediadora do painel “Ancestralidade e Visão de Futuro”, do qual foram convidados o empresário do ramo de tecnologia, Marcus Casaes (@marcuscasaes), e o modelo e diretor de casting, Carlos Cruz (@carloscruzmodel), que falaram de suas trajetórias de ascensão em suas respectivas áreas, empoderamento e importância da autoestima.

“Há 20 anos empreendendo, já vivi de tudo de ótimo e tudo de péssimo no empreendedorismo. Isso dá casca e para empreender é preciso ter casca. O associativismo jovem empresarial foi estratégico na minha vida. A gente precisa começar a entender o game. Se a gente não estiver nesses espaços para dar as nossas cartas, outras pessoas vão dar no nosso lugar”, aconselhou. Carlos Cruz lembra que não se via como um homem belo e recusou várias vezes o convite para se tornar modelo. “Eu era contador, não era feliz e não me via capaz de ser modelo. A moda mudou a minha vida, tomou o meu coração. Já viajei para diversos países, trabalhando com moda: Índia, Inglaterra, Turquia, Itália, França”, recorda.

Ao dar prosseguimento ao encontro, Taiane Almeida apresentou algumas soluções gratuitas para empreendedores, desenvolvidas pelo Sebrae em parceria com a Prefeitura de Salvador. “Estamos falando de negócio. Dinheiro não é sujo, não é ruim e a gente não fica metido quando ganha dinheiro”, enfatizou, ao falar sobre os cursos de: Gestão de Caixa; Análise e Inteligência de Dados; Gestão de Processos Empresariais; Marketing e Branding; e Marketing Digital. Na oportunidade ela ressaltou, ainda, a importância da formalização e que os interessados só podem se candidatar a até duas consultorias, devem ter disponibilidade e que os cursos são destinados a empresas com CNPJ em Salvador.

Conexão Digital

Após a fala da gestora, o coordenador de Comércio e Serviços do Sebrae Bahia, Edcarlos Moreira, convidou a todos a se inscreverem gratuitamente no “Conexão Digital”, que acontece em 14 de maio, também no Fiesta Convention Center. O evento vai tratar de técnicas sobre vendas online, seja nas redes sociais, seja em marketplaces. Segundo ele, a Bahia ainda vende muito pouco no ambiente digital. “Quem está apenas no presencial tem que entrar no digital e isso tem que ser pra ontem, porque não é mais uma tendência, é uma realidade”, advertiu. As inscrições podem ser feitas por esse link.

A empresária e fotógrafa Magali Moraes (@magalimoraess) mediou a cantora, compositora e atriz Majur e o jornalista, apresentador e criador de conteúdo, Raoni Oliveira (@raonioliveira), no painel “Ideia Preta”. Raoni recordou como, incialmente, quando era celetista (em site, rádio, TV), essa função o ajudou a dinamizar suas redes sociais. “Com o passar do tempo isso se inverteu. Minhas redes sociais serviram de trampolim para eu divulgar projetos especiais da televisão. E ano passado eu saí da TV para focar na produção de conteúdos, que é o que me dá maior retorno financeiro”, disse.

Majur revelou que já trabalhou em muitos lugares, sendo que a função que mais desempenhou foi a de operadora de telemarketing. “Sempre que eu pensava em crescer dentro de uma empresa, me dava conta de que era um caminho extremamente árduo, principalmente por ser uma pessoa preta. Não nos enxergam como um potencial, por mais que a gente entregasse o máximo. Mas, na música, a gente está livre para fazer o que quer, empreender e realizar o que deseja”, refletiu.

“Somos fortes”

A palestra do jornalista, empresário, escritor, ativista e embaixador da União Africana, Manoel Soares, encerrou a noite, levando todos a refletir sobre história, economia, prática, empreendedorismo e potencial do povo negro. Manoel destacou a importância de se estar atento para grandes oportunidades de negócios, que muitas vezes passam desapercebidas. Ele contou como chineses estão fazendo fortuna na Nigéria ao vender um tipo de peruca (brazilian hair), que “tem deixado as nigerianas felizes e se sentindo belas como se fossem brasileiras”.

Manoel Soares foi seguro ao afirmar que é importante o povo preto não vender a própria dor, reproduzindo o discurso imposto pelo branco colonizador. “Somos fortes, não somos pobres!”, repetia a todo instante. Lembrou que o empreendedorismo é inerente ao povo preto, desde quando residia em solo africano, até depois de ter atravessado o Oceano Atlântico para viver na diáspora brasileira e citou as baianas de acarajé, quituteiras, que fizeram e fazem desse um grande negócio até os dias atuais. “Quando falamos de Black Money, impulsionamento da comunidade negra, de tecnologia negra, nos referimos à racialidade, que é a capacidade que a comunidade negra tem de provocar expansão no seu mundo e no mundo que a cerca”, concluiu.