No ano de 2023, a parceria entre Sebrae e a empresa Aliança Kirimurê, por meio do projeto “Maré Empreendedora”, promoveu a formação de pescadores e marisqueiras nas comunidades pesqueiras dos municípios de Madre de Deus, Salina das Margaridas, Vera Cruz, Itaparica, Candeias, entre outros. Ao todo 500 atendimentos foram realizados, sendo a maior parte feita pelo Maré Empreendedora. No final deste ano, a regional de Santo Antônio de Jesus alcançou êxito com a replicação das capacitações em sua região.
Segunda a analista técnica do Sebrae, Sandra Carvalho, as capacitações em 2024 irão continuar. “Pretende-se dar continuidade com as capacitações ampliando as ações para mar aberto e aquicultores (produção de peixes em tanques). Os interessados em participar podem solicitar atendimento, pois será apresentado o projeto e alocado para um grupo novo ou já existente em sua localidade”, explicou.
A formação tem fortalecido e sensibilizado as comunidades pesqueiras sobre os negócios socioambientais inovadores, a proteção ao meio ambiente, respeitando a identidade local e suas práticas, como explica a analista.
“As capacitações do Maré Empreendedora promovem a valorização da pesca artesanal, que já é produzida localmente, para incrementar a renda de pescadores e marisqueiras do projeto. A melhor qualidade de vida está diretamente ligada ao aumento da renda, e isso acontece com o aprimoramento das técnicas de pesca sustentável respaldadas pela ODS”, explicou.
As ações do projeto também estão vinculadas à Rede Aliança Kirimurê, formada por pescadores e marisqueiras das comunidades pesqueiras da Baía de Todos-os-Santos. O engenheiro de pesca José Carlos Bezerra, da empresa Aliança Kirimurê, credenciada pelo Sebrae, acompanha as comunidades com orientações sobre as maneiras inovadoras de comercializar os produtos, cuidando do meio ambiente.
Com isso, nas comunidades tem-se trabalhado com criação de ostras, uso da escama de peixe para produção e comercialização de acessórios, o cultivo das algas para uso na culinária e na produção de cosméticos, entre outras ações. Para a marisqueira Maria de Lourdes Cardoso, de Itaparica, na Ilha de Itaparica, o trabalho realizado com as algas contribuiu para o incremento na renda das mulheres que coletam mariscos.
“Fazer esse trabalho, hoje, melhorou bastante a nossa renda. Já podemos contar com esse dinheiro para o nosso benefício”. O uso das algas possibilitou a elaboração de diferentes tipos de cosméticos. “Separamos as algas, tratamos e produzimos sabonete facial, creme facial. Começamos a criar agora o sal de algas. Se preparem, porque vem mais novidades por aí”, revelou.
Segundo Sandra Carvalho, as ações realizadas pelo Maré Empreendedora têm contribuído para a qualificação dos trabalhos realizados nas comunidades pesqueiras. “Com o conteúdo técnico aprimorado, os profissionais de pesca (pescadores e marisqueiras) têm melhor aproveitamento dos seus trabalhos através do beneficiamento de pescados, técnicas de criação que possibilitam produtividade e qualidade, o que tem gerado acesso a mercados, e consequentemente maior ganho”, contou.
Maria de Lourdes afirma que o apoio do Sebrae também ajudou a fazer uma avaliação sobre o trabalho realizado com os cosméticos para descobrir formas de melhorar a produção.
“O Sebrae foi muito importante para nossa volta na produção do sabonete. Antes, nosso sabonete não era muito natural, hoje ele é 100% natural. Nós aprendemos a fazer o sal de algas marinhas, o creme facial, que também é natural. É muito importante para o nosso grupo das marisqueiras”, pontuou. Os cosméticos são comercializados por meio da Rede Aliança Kirimurê, no Instagram (@aliança_kirimurê), como também nos restaurantes.
De maneira semelhante, a marisqueira Carla Medeiros, de Salina das Margaridas, também seguiu as orientações do projeto Maré Empreendedora na prática da coleta do popular chumbinho (vôngole) e alcançou bons resultados.
“Além das técnicas tradicionais usadas para mariscar, o que a gente aprendeu que mais fortaleceu foi a ideia da formação de grupos. Antes era individual, cada uma mariscava e vendia seus mariscos. A gente conseguiu montar um grupo para trabalhar juntas”, explicou.
Carla Medeiros ainda explica que vender o chumbinho na casca foi algo novo, o que também trouxe uma redução do tempo de trabalho manual. “A questão do marisco na casca foi uma novidade bacana. Além de fazer menos esforço, não precisamos escaldar, o valor também agregou e compensou. Hoje vender [chumbinho] na casca tem sido para nós o auge. Um grupo pode ir vender na casca e o outro grupo pode vender catado. Isso também fortaleceu o trabalho coletivo”. Após a coleta junto às marisqueiras, a Aliança Kirimurê realiza a depuração antes da entrega aos clientes.
As orientações trazidas pelo Maré Empreendedora também incentivam o cuidado e a preservação do meio ambiente. “O que ajudou a preservar os espaços marinhos foi a forma que a gente encontrou também de pegar os mariscos maiores, com as redes maiores, e fazer a retirada dos frutos do mar com mais consciência”, explicou a marisqueira.
Desde 2018, o Sebrae acompanha a Rede Aliança Kirimurê, inicialmente, com a oferta de capacitação com gestão empresarial, vendas, finanças e atendimento ao cliente, num projeto desenvolvido pela rede e apoiado pelo governo do estado. Esse modelo seguiu até 2019. Após, a suspensão das capacitações, em 2020, por causa da pandemia e, com o término do apoio do estado, o Sebrae passou a atender a Aliança Kirimurê, como credenciada. Daí o projeto Maré Empreendedora foi criado para ampliar as capacitações, suas bases e os resultados para realizar novas adesões.